quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quero fazer intercâmbio, mas sou cadeirante, e daí ??

 Gente, não sei vocês, mas  um dos meus sonhos é viajar sozinha para o exterior para aprender outro idioma, mas fico pensando:
- Será que consigo me virar sozinha?
- Será que o idioma será um grande empecilho?
- Será que as pessoas serão  preconceituosas?
- Será que vai ter  alguma dificuldade de acesso?
- Será...? Será...?? Será...??? 

Hoje trouxe  para vocês a experiência de uma amiga sobre intercâmbio!! E quando ela começou a falar, confesso que só aumentou minha vontade de substituir os "Será...?" por certezas de que eu posso e é possível, sim!!


" Meu nome é Joelma Silva, tenho 34 anos, e tenho Distrofia Muscular de Cinturas, sou cadeirante desde os 21 anos. Sou graduada em Gestão de Sistemas de Informação e Pós Graduada em Gestão de Empresas. Atualmente sou bancária, atuando na Área Empresarial. Nasci em Arujá e moro em Itaquaquecetuba, região metropolitana de São Paulo.

Sempre tive esse sonho de estudar fora do país. Viver em um lugar diferente: clima, arquitetura e cultura diferente da nossa. Achava que era só mais um sonho impossível, até essa idéia não sair da minha cabeça e eu começar a procurar informações sobre intercâmbio.

A minha mãe ficou bastante preocupada quando eu contei sobre o intercâmbio (eu já estava decidida), mesmo assim ela me apoiou e ficou mais tranquila quando soube todos os detalhes referentes à escola, acomodação, seguro saúde e a viagem em si. Toda a minha família deve ter ficado preocupada mas não falaram nada diretamente. Só a minha irmã que mandava mensagens todos os dias querendo saber como eu estava e pra dizer que estava preocupada comigo tão longe de casa.

Meus amigos ficaram 100% surpresos! Quase todos me acharam louca..rs Depois do choque inicial, eles me acharam muito corajosa, determinada e me apoiaram em meio aos muitos pedidos do tipo "toma cuidado,  não esquece do seguro saúde,  fica calma, se precisar me chama que eu chego em 24hs!" (sim, eu tenho amigos assim!)  Sou suspeita pra falar, mas tenho a melhor família e os melhores amigos do mundo e sou feliz demais por isso. :)

Eu fui para Dublin, na Irlanda. Meu intercâmbio foi de 30 dias, o período de férias do meu trabalho. Dublin é uma cidade acessível, muito diferente daqui. Tem guias rebaixadas nas calçadas. Aliás, algumas calçadas são extremamente largas.  Mas não é assim em 100% dos lugares, principalmente por ser uma cidade muito antiga. A arquitetura é fascinante mas algumas ruas são de paralelepípedo e as calçadas são estreitas dificultando o acesso para cadeirantes. Algumas lojas tinham degraus e nem sempre o elevador estava funcionando. Não consegui entrar em alguns lugares por conta disso. Essas dificuldades não me fizeram perder o encanto pela cidade.

A Irlanda é linda demais! Lá é primavera agora, onde o verde é ainda mais verde e tem flores de todas as cores e formatos. Tem muitas igrejas impressionantes, castelos lindíssimos mais antigos do que o descobrimento do Brasil! 
Um amigo muito querido foi me visitar enquanto eu estive por lá e me proporcionou uma viagem maravilhosa pelo interior da Irlanda. Fomos para Galway uma cidade que fica 3h de Dublin, de carro. O caminho todo é lindo, muita área verde, vilarejos antigos com casas charmosas, igrejas, propriedades demarcadas por muros de pedra que estão lá não sei quantos anos, mas que são lindos. E, no fim da viagem, é que ela realmente começou... Ele me levou nos Cliffs of Moher - o lugar mais bonito que  meus olhos já viram! Um cenário onde você não consegue pensar em nada, só agradecer por estar lá e poder apreciar tudo aquilo de perto. Não dá pra tentar descrever, nem as fotos conseguem, é preciso estar lá.
Enfim, a Irlanda é apaixonante. Simples assim. :)


Na acomodação da escola, (um apartamento muito bonito no centro de Dublin e de frente a rua da escola) foram feitas adaptações no banheiro e no quarto. Eu pedi uma tampa especial no vaso, para ficar da altura da cadeira. A minha cama recebeu um colchão fino embaixo do colchão de molas, para também ficar da mesma altura da cadeira e facilitar as transferências.
Eu sou cadeirante, mas tenho limitações na cintura escapular também (região dos ombros), por isso não sou totalmente independente. Eu preciso de ajuda para algumas coisas, na minha casa faço mais coisas sozinha, mas um ambiente novo me deixa insegura e com medo de me machucar pra valer, então a prevenção é o melhor remédio.
Durante o meu intercâmbio eu precisava de alguém pra me ajudar no banho, ajudar a me vestir, andar comigo na rua, esquentar comida e outras coisas. A escola sabia de tudo isso durante a fase de contratação do intercâmbio e contratou uma das alunas para me acompanhar nesse período. Quando a conheci, nos aproximamos muito rápido e ela foi me ajudando antes do diretor fazer a proposta pra ela, ele pensava em contratar alguém da área de home care mas não era necessário, no meu caso. A Nety aceitou na hora e nos aproximamos ainda mais e ela foi mais um dos anjos que entraram na minha vida.

Fiz muitos amigos!!! A Nety foi a primeira! Dublin tem muitos estudantes brasileiros. Conheci mais brasileiros do que gringos mas eu adorei! Conheci pessoas de várias partes do Brasil e do mundo, com seus sotaques, costumes e seus valores.
Dividi o quarto com duas argentinas também e nos tornamos amigas. Elas são atenciosas, carinhosas, inteligentes e amam o Brasil. Elas fizeram questão de me levar ao aeroporto quando voltei para o Brasil. Estou devendo uma visita na Argentina agora! :)

Com relação ao idioma, eu sinto que evoluí muito , mas em 30 dias não tem como ser fluente. Tenho muito o que aprender. Ainda sou insegura pra falar, mas descobri que entendo muito mais do que imaginava e que consigo sim me comunicar e me fazer entender. E isso é muito bom!

Com relação a sofrer preconceito... Vou ser sincera... Eu até estava preparada pra isso, caso acontecesse, mas não, não senti nenhum preconceito em nenhum momento. Muito pelo contrário, as pessoas passavam por mim e pela Nety e perguntavam se queríamos ajuda, mas já com a mão na cadeira. Eles se preocupam com o seu bem estar e em garantir o acesso aos lugares. Na escola, todos se ofereciam para ajudar.  Nos primeiros dias de aula, quando não te conhecem, não sabem de onde você vem e o que aconteceu com você, é natural as pessoas ficarem distantes por respeito. Mas no fim da primeira semana eu já estava a vontade com todos e  eles comigo. E deu tudo certo.

Voltei tem pouco tempo (2 semanas) e ainda tenho muitas pessoas pra reencontrar. A minha família está feliz por eu ter voltado (assim espero..rs). Sei que estão orgulhosos de mim. Eles sempre me respeitaram, então não posso dizer que me respeitam mais do que antes, mas que continuam me respeitando e me admirando.
Meus amigos estão felizes e empolgados e querendo saber tudo da viagem e de como eu me virei lá. E eu percebo em seus olhos a felicidade que eles tem por me verem feliz. E sempre tem alguém que me diz que me usou como exemplo pra encorajar alguém ou para dar bronca mesmo: "olha, eu tenho uma amiga que é cadeirante e foi fazer um intercâmbio sozinha! E você está com medo por quê?" Uns falam na faculdade, outros com amigos, ou com pessoas que estão reclamando sem ter motivo. Eu acho isso muito bacana porque, por mais que tenha exigido coragem da minha parte,  eu fiz o que eu queria, o que eu sentia. Quando identifiquei que era um desejo da alma, tudo ficou claro e me pareceu a única coisa a fazer. E não foi difícil. E me fez feliz demais!
 


Não vou ser modesta... Eu me sinto muito orgulhosa desse intercâmbio! Valeu a pena realizar esse sonho! Até porque não teve "pena" nenhuma. Tudo fluiu, as coisas aconteceram naturalmente e eu não dei espaço para nada atrapalhar a tranquilidade com que eu passei o tempo lá. Eu me senti dona de mim pela primeira vez, de verdade. Me senti livre! Isso não tem preço e era isso o que eu buscava. Eu agradeço todos os dias por ter feito essa viagem, por ter condições de ter feito o intercâmbio. Na vida é preciso sair da nossa bolha, do nosso mundo particular. Tem tanta coisa nos esperando lá fora, tantos lugares, pessoas, emoções, sensações, sabores, cores.. tem tudo! Não precisa ser na Irlanda, pode ser no seu bairro mesmo, na sua cidade ou estado. Tudo depende de como levamos a vida,  do que esperamos dela e, principalmente de como estamos agindo para ter a vida que queremos.
Descobri que não sou mais a mesma. A minha mente abriu (ainda mais) de uma forma que não tem como voltar atrás e que bom que é assim. Descobri que eu sei, eu posso e agora eu consigo! :)"

E aí gente? Gostaram? Tenho muito orgulho dessa amiga!!

Obs.: A Jô, Joelma, gastou em média R$ 7.000,00, entre curso, acomodação, seguro e as passagens.

Agências de intercâmbio:

www.informationplanet.com.br
www.egali.com.br
www.agenciamundi.com.br


Espero que depois dessa leitura muitas das suas dúvidas tenham sido sanadas ;)!!! 
Beijos❤️




8 comentários:

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    1. Oi! Só agora que eu vi! Obrigada prima! Te amo! :)

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  2. Pois é não existe obstáculos pra quem quer viver a vida,orgulho de vc cunhada,é esses exemplos q eu quero que a Ana Carolina tenha tia maravilhosa...

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    1. Obrigada Adinaela! :) Ter o apoio e torcida de vocês me fortalece! Amo você e a minha sobrinha linda e preferida! Beijossss

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Apesar de quase ter me batido gosto muito de vove

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