domingo, 20 de outubro de 2013

"O que é que vou fazer com essa tal liberdade"

Não, este não é mais um post falando sobre música ou romance (apesar do meu romantismo ser latente e as vezes mexicano kkkkkkkk) e não que não sejam importantes ou interessantes, mas hoje quero conversar sobre um dos nossos direitos mais caros e que muitas vezes, se depara em dilemas, sociais e familiares, que nos faz recuar (ou até mesmo calar diante das situações) em nome da boa convivência: a nossa liberdade de expressão.
No nosso dia a dia (ora limitados por algo físico ou pelo desconhecimento e medo dos outros) aprendemos que nem sempre as pessoas estão preparadas para a verdadeira realidade de uma pessoa com deficiência. A falta de conhecimento ou a super proteção faz com que o convívio se torne ainda mais limitante do que a própria deficiência em si. Mais do que qualquer médico NÓS sabemos até onde podemos ir, e aonde queremos chegar.
Na semana passada, estive com a Luciana em um seminário sobre a aplicabilidade da Lei Maria da Penha voltada para a mulher com deficiência (depois contamos com mais detalhes pra vocês), e lá vi um dado que me deixou assustada. Vi que dentre os vários tipos de violência que um ser humano pode sofrer, um percentual altíssimo de pessoas com deficiência sofrem a violência de não terem sua opinião/vontade respeitadas pelas pessoas a sua volta. Ai cabem os cuidadores e alguns familiares que usam desta liberdade para se apropriar de algum beneficio, negando o direito de decisão e escolha do uso, limitando o deficiente a aceitar e "agradecer". Fiquei intrigada e de certa forma revoltada com o que vi, pois se já não bastassem os inúmeros limites impostos (pela sociedade e a própria deficiência)  AINDA temos que nos calar, aceitar e concordar com a vontade daqueles que "julgam saber o que é melhor para nós". Mas será que eles sabem mesmo o que é melhor para nós?!
No ambiente familiar, temos que usar todo o nosso jogo de cintura (amor e paciência) para mostrar que apesar de alguma dependência física, também temos vontades e desejos próprios, e que nem sempre irão coincidir com o que nossos estimados pais, irmãos, tios e afins, queiram. Fazê-los compreender e diferenciar a vontade/necessidade de  viver, de uma simples implicância ou birra é uma tarefa diária.
 

 Na minha fase de adaptação e aprendizado da Distrofia, tive que aceitar e conviver com muita coisa nova, e mais ainda, tive que ensinar para minha família que eu também podia. O ingresso na faculdade, meu primeiro trabalho registrado e as saídas para shows, foram verdadeiras conquistas! Minha mãe até hoje tem medo que eu faça algumas coisas, me enche de perguntas e a depender do caso questiona a necessidade de eu querer fazer algo, mas vou conversando e mostrando que independente do medo (preocupação, resistência ou sei lá mais o que, dela e meu também  kkkkkkkk), que a vida esta aí pra ser vivida. Que não serei a primeira nem a ultima a querer sentir cada gota do sucesso ou fracasso das minhas ações. Entendo toda a preocupação dela, afinal a sociedade ainda não esta preparada para incluir com respeito e igualdade, mas este espaço e esta mudança só depende de nós mesmo. Temos que colocar a cabeça pra fora da concha e gritar que estamos vivos e cheio de vontades!!!
O direito de liberdade de expressão, de poder externalizar nossas vontades e opiniões independe da condição física. Cabe a nós provar que mesmo precisando da ajuda de outras pessoas, somos capazes de escolher o que queremos e quando queremos. Esta imagem de "coitadinho" só existe na cabeça de quem não convive com pessoas que tem sede de viver como eu, minhas amigas InPerfeitas e outros tantos que pensam como nós!!! E cá pra nós, ninguém merece viver se lastimando e se colocando na posição de vitima do mundo. Afinal, quem não chora não mama. E eu tenho muito o que ver e viver!!!!
Beijos e inté
=)

Um comentário:

  1. Expressou com toda clareza e sentimento esta violência que sofremos, mesmo que de forma inconsciente por muitas pessoas.
    Fica aqui meus cumprimentos pela forma e assunto abordado.
    Abraço.
    Elizabete da Silva

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