Hoje trago para vocês um pouco da história de Claudia, nossa leitora, que está tirando sua CNH e passando por muitas dificuldades. Até quando vamos viver em uma sociedade que nos revoltam, e nos deixam indignadas com tanta falta de consciência e desigualdade? Esse fato ocorreu em RN, um total desrespeito com as pessoas que possuem necessidades especiais, segue o relato:
"Bem para início de conversa me chamo Cláudia, tenho 33 anos, moro
em Caicó-RN, tenho deficiência física e no início desse ano fui ao DETRAN com a
pretensão de obter minha Carteira Nacional de Habilitação e lá fui informada
que eu teria que ir a Natal, para eu poder ser avaliada por uma junta médica
especial que no meu caso, expediu um laudo que determinava que eu era obrigada
a dirigir veículo com transmissão automática, direção hidráulica e com
prolongadores dos pedais e elevação do assoalho e/ou almofadas fixas de
compensação de altura e/ou profundidade, devido a minha deficiência física. Sai
do DETRAN de Natal, super feliz com essa probabilidade, já sentindo aquela
impressão de liberdade e ao mesmo tempo pensando que não ia mais furar os meus
pés em espinhos ou cacos de vidro, nem atolar as muletas na lama quando chovia,
nem muito menos me queimar debaixo do sol causticante do nosso Sertão
seridoense durante as idas e vindas do trabalho.
E foi com essa alegria que corri para fazer minha matrícula em uma auto
escola de Caicó-RN e lá veio o primeiro balde de água fria, que fez com que meu
contentamento logo desse lugar a uma baita dor de cabeça, pois para meu espanto
fui avisada que eu não poderia fazer as aulas práticas em Caicó, a cidade não
possuía nenhuma empresa de Formação de Condutores que dispusesse de veículo com
transmissão automática e direção hidráulica atendendo assim as minhas
necessidades. Mesmo assim decidir fazer as aulas teóricas em Caicó, e enquanto
eu cursava as aulas pesquisava a existência de alguma auto escola no Estado que
me atendesse. Descobrir a existência de uma em Parnamirim, entretanto eles logo
me avisaram que apesar do veículo ser adaptado era uma adaptação manual, ou
seja, com ela o motorista usa as mãos para frear e acelerar. Informei que no
meu caso a adaptação era outra já que constava no laudo. Tentei ainda explicar
que esse tipo de adaptação que existia no carro deles era voltada para atender
pessoas paraplégicas, ou seja, que não possuem movimentos da cintura para baixo.
Já a minha deficiência era diferente pois, tenho os movimentos das pernas
entretanto, possuo baixa estatura. No entanto, foram taxativos ao afirmarem que
a adaptação era a que eles possuíam.
Diante dessa situação continuei a busca por outra
auto escola já que o veículo da empresa de Parnamirim não atendia as minhas
necessidades, e fui informada da existência de uma na cidade de Mossoró depois
de ter sido aprovada no curso teórico e com a proximidade das minhas férias do
trabalho fui p a Mossoró. Lá eu fui bem recebida, vi o carro, conversei com o
instrutor, com o proprietário da escola e ficaram acertadas as aulas para as
minhas férias, pois o horário do meu trabalho não permitiria esse translado
entre Caicó-Mossoró diariamente. Foi marcado o início das aulas para o dia
07/07/2014, todavia adoeci com uma conjuntivite e passei uma semana sem poder
sair de casa fazendo o tratamento recomendado pelo médico. Remarcamos então
para o dia 22/07/2014, entretanto a pessoa que faz as adaptações no único carro
que podia me atender sofreu um acidente e está impossibilitado de fazer as
adaptações e consequentemente eu fiquei sem as aulas e ainda não sei quando
será possível fazê-las.
Como professora, fico ainda me perguntando quando
uma criança com deficiência chega a uma escola seja ela pública ou privada,
somos obrigados a recebê-la e darmos o mínimo de condições para que ela estude,
sob pena de respondermos na justiça. Afinal de contas a educação é um direito
de todos e para todos. Partindo desse mesmo principio de respeito aos direitos
do cidadão me questiono até quando os direitos de igualdade, acessibilidade e
dignidade das pessoas com deficiência serão desrespeitados pelas auto escolas
do RN e especialmente de Caicó (Centro Regional da Região do Seridó)? Será que as
pessoas sem deficiência no RN e especialmente no Seridó vão continuar
participando de suas aulas e exames práticos, sem maiores problemas, pois
existem veículos em número suficiente para atendê-los, enquanto isso, pessoas
com deficiência como eu, tem que sair de sua cidade, se cansar com longas e
onerosas viagens e ausentar-se do trabalho durante vários dias? E por fim, até
quando o Detran que é o órgão que coordena o serviço das auto escolas, vai
fazer vista grossa a essa realidade?
Sinceramente termino aqui agradecendo a sua atenção
e com a esperança de que alguma pessoa possa responder a todos esses
questionamentos e quem sabe modificar essa humilhante situação.
(Cláudia Medeiros de Araújo,
01/08/2014)
Se mais alguém tiver alguma história, nos mande, unidos podemos melhorar muitas coisas.
Até a próxima!
Nenhum comentário:
Postar um comentário