domingo, 6 de novembro de 2016

Bailarina Luana, A RARA.

Me chamo Luana de Santana Perrusi, tenho 24 anos e moro na cidade do Recife. Nasci de um parto muito complicado, onde sofri uma anoxia, com uma  perda de 72% do oxigênio resultando numa  sequela motora do lado esquerdo.

Desde os 8 meses de idade faço fisioterapia e sou acompanhada por neurologistas.  Já fiz fonoaudiologia, hidroterapia, terapia ocupacional, RPG, e fui acompanhada por psicólogos. Atualmente faço Pilates.
Com 11 anos uma neurologista me diagnosticou com epilepsia, e tomei durante muitos anos remédios para tal.

Aos 15 anos fui liberada, por um ortopedista, da fisioterapia e passei dois anos sem fazê-la, na época aquele foi meu melhor presente de aniversário. No entanto, não sabia que ser liberada da fisioterapia me traria tantas complicações e me deixaria sem me locomover sozinha. Aos 16 anos me apaixonei pela dança de salão, em especial pelo zouk. Mas como poderia dançar se nem andar direito eu conseguia? Com incentivo de minha mãe, iniciei a dança e me apaixonei cada vez mais.

Como não me locomovia mais sozinha, optei por iniciativa própria usar o andador , não queria mais precisar de outras pessoas para me levar aos locais, principalmente ao banheiro, pois aquela parada de 2 anos na fisioterapia regrediu bastante minha locomoção, o medo de cair era grande e sempre dependia dos outros. Pensei que bengalas ou muletas, não serviriam para mim, cadeira de rodas era algo de mais e a opção foi o andador. Meu companheiro que me deu a liberdade.

Em minha formatura no curso de Ciências Biológicas, resolvi ao invés da valsa fazer uma apresentação de zouk com meu namorado e uma roda de samba com os convidados.
A partir daí me tornei bailarina, alguns convidados que me viram dançar me convidaram para realizar algumas apresentações e as coisas foram acontecendo.
Aos 22 anos, após 4 anos de espera na fila do SUS, eu e minha mãe partimos para o Rio Grande do Sul, onde após um mês internada recebi o diagnóstico correto, nunca havia tido epilepsia, todos aqueles remédios foram em vão. 
Eu apresento uma doença rara chamada de Hiperecplexia ou Síndrome do Sobressalto, na qual é caracterizada por quedas após estímulos visuais ou sonoros. Ex: Fogos de artificio, bolas de encher usadas em festas, tampa de refrigerante que cai ao chão, lagartixa que passar correndo próximo a mim, portas ou janelas que batam ao fechar, sombra de um pombo que voa...
Essa doença é progressiva, não tem cura ou tratamento e está diretamente ligada ao emocional, estresse, ansiedade...

Após a descoberta percebi que poderia ajudar outras pessoas com minhas experiências e resolvi criar uma página: Luana, A Rara (Blog - http://luanaarara.blogspot.com.br/ -, Fanpage - fb.com/luanaarara -, Instagram - @Luanaarara -, Twitter - @RaraPerrusiLua). Para falar sobre falta de acessibilidade e preconceito que enfrentamos, sobre superação, outras doenças raras, curiosidades, e divulgação do meu trabalho como bailarina.

Hoje posso dizer que sou Bióloga por formação e Bailarina por amor a dança. Realizo diversas apresentações em ONGs, Escolas, Universidades, Shows, Teatros. Sou coreografa e me apresento nas modalidades de dança contemporânea, frevo, utilizo do universo lúdico para encantar a meninada, realizo as apresentações no solo ou com meu andador, e faço parte da Cia Dançabilita, uma companhia de Dança do Ventre.
Uma frase que costumo dizer "Eu danço melhor do que ando". Não importa suas limitações, se é um sonho... Corre atrás que ele será realizado.

Bailarina Luana, A RARA. 







Vídeo da apresentação LINDA e  emocionante de Luana Perrusi na III Mostra Inclusiva Dançabilita:

segunda-feira, 11 de julho de 2016

TURISMO ACESSÍVEL

Por Rogelio Martinez
O turismo é um direito humano ao lazer e entretenimento, e que portanto não pode e não deve, excluir as pessoas com deficiência ou algum tipo de limitação (seja na mobilidade, audição, comunicação ou capacidade cognitiva, entre outras). Desta forma, é como o turismo acessível surge.

termo Turismo Acessível possui vários sinônimos em diferentes países, sendo então conhecido por muitos outros: Turismo Inclusivo,  Turismo adaptado, Turismo para Todos, Turismo sem barreiras (BFT, na sigla em Inglês), Turismo fácil acesso, Turismo Universal. (Organização Mundial do Turismo (OMT), 2014, p. 17)
Mas,qual é a diferença do turismo tradicional para o turismo acessível? Este último é um processo que permite que as pessoas com deficiência e idosos desempenhem as suas funções de forma independente o quanto possível, com justiça e dignidade, fazendo uso de diferentes produtos, serviços e ambientes turísticos. (Darcy, Cameron, Pegg, & Packer, 2008).
Turismo acessível é decorrente da demanda das pessoas com deficiência em exercer o seu direito de fazer turismo, atividades recreativas e culturais, com a mesma liberdade como as demais atividades, no entanto, o termo evoluiu e agora inclui um grupo maior de viajantes que têm necessidades especiais ao fazer atividades turísticas.


Fonte: elaboração própria.

Hoje a demanda de necessidades especiais evoluiu, resultando por exemplo, em algumas linhas aéreas tenham estendido o espaço inter assento devido ao número de passageiros de alta estatura, que usam seus serviços, ou já não existam apenas vagas de estacionamento azul para pessoas com deficiência motora, mas também rosas, para as mulheres grávidas.

Outro aspecto pouco considerado referindo-se ao turismo acessível, são as necessidades de comunicação das diferentes línguas. Em locais com elevado número de visitantes internacionais como museus, passeios de ônibus, etc., o fator comunicação é fundamental, por isso usa-se sinalização e informação auditiva em várias línguas e iconografia amplamente utilizados para facilitar a compreensão por parte dos turistas.

Nos aspectos mais cotidianos, como alergias ou intolerância a certos alimentos, como lactose, glúten (doença celíaca) ou alimentos ricos em açúcar (diabetes), são algumas das exigências especiais que fazem os clientes, além de outras crenças relacionados certificação religiosa e kosher entre outros.

Quando se fala em turismo acessível, envolve mais do que apenas ajustes arquitetônicos e urbanos, embora em muitos casos tanto na literatura e no discurso inclusivo pareçam limitar a isso.

A gestão adequada de um lugar acessível significa trabalhar com toda a cadeia turística, começando com a inclusão de publicidade informativa disponível ao turista, seguindo com a adequação dos ambientes urbanos e arquitetônicos do local, como tal, os meios de transporte e estações que as pessoas utilizem durante a viagem, a disponibilidade de serviços de alojamento e restaurantes, capazes de atender as necessidades das pessoas com deficiência e outros usuários, além do fornecimento de atividades culturais ou turísticas que podem ser visitadas.


Fonte: elaboração própria baseada nas resoluções da OMT dos anos 2005 e 2009

O centro turístico da Praia de Puerto Vallarta já iniciou uma série de ações na tentativa de posicioná-lo como centro turístico acessível, aproveitando a imagem internacional que já tem como lugar de sol e Praia e que gera um número importante de visitantes estrangeiros por ano.

Entre as ações está a remodelação da zona central da cidade, com a construção de rampas em todas as áreas e delimitando espaços de estacionamento para uso exclusivo das pessoas com deficiência. As ruas estreitas para uso apenas de pedestres estão sendo remodeladas, para além de melhorar a imagem pública facilitar o trânsito das pessoas com deficiência, principalmente porque nessas ruas estão localizados o maior número de lojas e restaurantes.













Todo o texto do artigo foi elaborado e cedido ao inPerfeitas pelo autor. Grata ao querido Rogelio Martinez pela sua linda contribuição.
Rogelio Martinez 53 anos D.Sc. , Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México, especialista em Turismo Espiritual e Turismo Acessível . Guadalajara , Jalisco , México.


Quero conhecer logo o México! Vamos?????? :)
Beijos meus amigos!!

domingo, 26 de junho de 2016

Mudanças


Acredito que todo mundo passa por mudanças alguma vez na vida. A minha vida foi cheia delas, desde o início. Engraçado que sou taurina e dizem que pessoas desse signo odeiam mudanças... Ferrei-me! rsrsrsrs... Mas desde cedo, Deus quis me fazer entender que elas são necessárias em nossas vidas, nos fazem crescer, amadurecer e até encontrar oportunidades que antes não víamos. Sabe como aprendi? Não foi tão rápido e foi com as pancadas que levei mesmo... Literalmente. rsrs

Desde bebê moro com meus pais e meu irmão no edifício calcos, no bairro Setubal em Recife, aprendi tanto aqui. Aprendi a andar, reaprendi a andar... (re) reaprendi a andar... rsrsrs...explico já... Pois bem, aqui fiz amizades, brinquei, chorei, ri e cresci.
Aprendi a respeitar o próximo, a amar o outro e a não ver diferenças, se é que elas existem. Foi aqui que brinquei de pega-pega, pique-esconde, vôlei, 7 vidas, barra bandeira, barbie, vendedora de revistinhas gibis. Fazíamos festas juninas, coreografias, desfiles de moda, etc...

Quantas vezes ouvia os gritos de minha mãe e pai ou dos porteiros Dionízio, Zeílton e seu Antônio dizendo:

- Luciana, já está na hora de subir, jantar!! E eu respondia que ia subir e demorava horas, rsrsrsrs...

Foi aqui que a distrofia apareceu, que levei as primeiras quedas e que era café com leite (para poder participar das brincadeiras).

Sempre fui danada quando pequena, ao contrário do meu irmão, este sempre tinha que me defender nas brigas rsrsrs. Meus vizinhos, porteiros e amigos, éramos todos uma grande família.
Já fomos fabricantes/vendedores de batida de fruta e de perfume e os vizinhos do Calcos eram os clientes VIPS!!!!!!!kkkkkkkkk

Devia ter uns 13 anos quando chego de ambulância no prédio, depois de longos dias no hospital... Saio de maca, ainda operada e o porteiro Carlos, sempre amigo e solicito, veio ajudar para subir dois andares, pois a maca não cabia no elevador. Enfim, estava de volta ao Calcos ... Estava em casa e com os meus.

Com a distrofia, mudanças são frequentes e tive que reaprender a andar duas vezes, e lembro que o prédio que moro até hoje sempre se fez presente nesse enredo.Não consegui mais subir escadas, passei para a muleta e anos depois para a cadeira de rodas e cada vez mais dependente do único elevador do prédio, o que tornou-se um problema.

Ah, não posso esquecer dos porteiros novos, Silvio, Léo e Irmão, sempre a postos a ajudar quando chego da fisioterapia, trabalho ou das baladinhas com os amigos.

Agora, deparo-me com uma nova mudança, claro que planejada e ansiosamente esperada, devido às dificuldades físicas que hoje enfrento, sendo que desta vez não fará mais parte do enredo o Calcos, onde fui tão feliz. Mudarei de prédio, de vizinhos e de porteiros, é... Continuarei feliz em outro lugar... Que assim seja.

Sou e serei sempre tão grata à família Calcos, vizinhos amigos, tios e tias, porteiros antigos e os novos.

Com amor,
Luciana, do 204.

terça-feira, 21 de junho de 2016

InPerfeitas: Em tempos de crise, CRIE!

InPerfeitas: Em tempos de crise, CRIE!: Ano complicado: milhões de desempregados, empresas fechando suas portas, recessão, encolhimento nos investimentos.... Ano cheio de revir...

Em tempos de crise, CRIE!


Ano complicado: milhões de desempregados, empresas fechando suas portas, recessão, encolhimento nos investimentos.... Ano cheio de reviravoltas: delação premiada, processo de impeachment, extinção de ministérios, governo provisório falido... E nós? Como ficamos no meio disso tudo? Nossos planos e sonhos?!
Como sabem, sou uma otimista de carteirinha, e não sou de desanimar fácil, mas confesso que passei por dias não tão coloridos, mas estou me esforçando para colorir- los de novo.

Diariamente somos bombardeados por notícias desanimadoras acerca do futuro, mas apesar da especificidade de cada realidade e da ambição/desejo de cada um, não podemos (nem devemos) nos deixar levar por essa maré derrotista. Apesar das inúmeras dificuldades é no momento de crise que o inesperado acontece. Em momentos de dificuldades somos obrigados a repensar nossas atitudes, a reutilizar, a economizar ... e nesse movimento de reavaliação, é que as oportunidades aparecem. Seja um curso que nunca havíamos dado importância, a idéia de abrir um negócio próprio, iniciarmos uma dieta e uma mudança radical nos hábitos alimentares, incluir exercícios, se tornar voluntário em algum projeto social.... Enfim, podemos e devemos abrir o campo das ideias e perspectivas, sair da caixinha da comodidade.


Para essa e tantas outras situações de nossas vidas, o primeiro passo é parar e dar aquela respirada profunda, colocar a massa cinzenta para trabalhar e produzir idéias (se esse momento de divagação puder vir acompanhado de uma panela de brigadeiro.... perfeito né :p).
Mas falando sério, pegar um pedaço de papel e usar uma técnica chamada de Brainstorm (http://www.significados.com.br/brainstorming/), escrever no topo o problema/plano/sonho (dificuldade de encontrar um emprego, entrar na faculdade, ganhar dinheiro para comprar/pagar algo .... são muitos eu sei, mas nada de deixar o desânimo te dominar) e no corpo da folha de papel ir listando as possibilidades de resolve-lo, buscar alternativas e idéias. Isso pode auxiliar a enxergar o problema na real dimensão dele, tirar do MACRO e trazer para o mundo real. nos permitindo encontrar alternativas que até então não conseguimos perceber. Eu comecei a ganhar o meu dinheirinho dando aulas particulares, depois passei a fazer bijuterias, bonecas de lã e apesar de ser pouquinho, eu tinha a sensação maravilhosa de "independência" de poder comprar minhas coisas e planejar outras mais.

Atualmente estou sem trabalho, mas como não consigo ficar parada em casa eu parti para o mundo dos doces. Comprei um curso de bolo no pote na internet, gostei, depois comprei outro curso, de cupcakes, e comecei a testar as receitas no início deste ano para ver se realmente tinham saída. No começo passei por alguns perrengues para produzir os bolinhos, pois a pessoa que me ajudava não estava muito afim de fazer, daí eu ficava sem ter como fazer. Agora as coisas parecem que estão caminhando bem, encontrei uma outra pessoa para me ajudar, tenho conseguido vender direitinho, os bolinhos tem conquistado compradores fiéis e já não sofro tanto para pagar a ajudante kkkkkkkkk Meu irmão, criou a minha logomarca, meus bolinhos são chiques tá kkkkk É muito legal poder trabalhar com algo seu, ver e fazer crescer do seu jeitinho. Escolhi os bolinhos e cupcakes, por adorar cozinhar, apesar de não poder fazer minhas gororobas tanto quanto gostaria (minha cozinha e minha distrofia teimam em querer limitar minhas vontades, mas coitadinhas delas que não conseguem e vou assim mesmo kkkkkk) e quando vou pra cozinha faço muita coisa boa, sem falsa modéstia. Falo que eu "uso" as mãos de outra pessoa para poder transformar meus pensamentos gordos kkkkkkkkk.

Já compartilhei de vários links de cursos, instituições e sempre que posso trago essa temática a tona pois sei o quão difícil é o processo de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Vejo muito potencial, pessoas interessantes e inteligentes que são menosprezadas por possuírem algum tipo de limitação, como se no UNIVERSO só existissem pessoas perfeitas que possuem de TODAS as habilidades e capacidades. Buscar orientação, usar os canais e ferramentas que dispomos (amigos, vizinhos, familiares, internet...) para tentar tornar as nossos sonhos mais possíveis. Sei que nem tudo pode ser realizado, mas nem por isso devemos deixar de tentar. Para aqueles que como eu gostam de cozinhar, o youtube dispõe de vários canais de culinária que dão receitas simples e que podem rendem uma graninha extra. Tem também vários cursos de artesanato, tem o Pinterest cheio de dicas sobre tudo.

Não se deixem desanimar, levantem a cabeça, tenham orgulho de onde conseguiram chegar e não deixem de desejar, de querer ir além. Porque cedo ou tarde vamos chegar, nem que seja numa fotografia :p Somos abençoados e possuímos um potencial sem limites, basta acreditar e querer!

Um beijo grande e inté mais!
=)




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

#PartiuMundo - Além das nossas paredes


Por Juliana Duarte, Jornalista, de Recife - PE














"O primeiro trajeto foi Recife (REC) – Lisboa (LIS) – Barcelona (BCN) e a companhia aérea a TAP Portugal. Tudo o que eu precisei apresentar no Aeroporto, aqui em REC, foi a nota fiscal da bateria da minha cadeira motorizada, com a descrição do produto comprovando que ela NÃO é de Lítio, e sim de um material autorizado em voos.

Se você tem uma cadeira motorizada, eu aconselho que guarde bem direitinho esse documento! Vai que um dia você decide ganhar o mundo... Ter a descrição da bateria em nota pode facilitar a sua vida. Muito embora, aeroporto europeu nenhum tocou mais nesse assunto.

Aliás, se você não deu sorte na vida e é um cadeirante que precisa muito de uma cadeira motorizada para ter autonomia nessa vida (que nem eu!) eu aconselho ainda mais: nem tenha uma cadeira que só aceita baterias automotivas (de lítio), ela provavelmente não será aceitas pelas companhias aéreas e enfim, vai ser aquela dor de cabeça na hora de viajar. Pra quê complicar ainda mais a vida da gente, né?

Em nenhum dos voos (REC-LIS-BCN-LIS-REC) despachei a minha cadeira como bagagem.  Embarquei com ela, o que significa: ir na sua própria cadeira até a porta do avião, lá eles te ajudam a transferir para uma cadeira estreitinha e te levam até a fileira do seu assento, que normalmente é uma próxima ao banheiro. No desembarque é feito o inverso. Não sei bem onde guardaram a minha cadeira, só sei que não foi no compartimento de bagagem e que ela sempre voltava inteira!

Sempre teve ambulift quando precisou, profissionais bem treinados e eu não fui esquecida dentro de nenhuma nave! Até porque eu nunca era a única cadeirante dos voos que pegava. Teve um voo que teve cadeirantes, bebês e cachorros. Assim, uma coisa bem família.

Tanto o aeroporto de BCN quanto o de LIS oferecem um serviço de transporte (acessível, claro!) chamado AeroBus. Trata-se de um ônibus que sai do Aeroporto a caminho de algum ponto central da cidade. Neste trajeto ele vai fazendo várias paradas em pontos preestabelecidos, basta perguntar qual a parada mais próxima ao endereço do hotel onde você vai se hospedar.

Em BCN, a tarifa custou cerca de 6 euros, por pessoa. E se você optasse por já comprar a ida e a volta, saía por cerca de 10 euros. Em LIS só era praticada a tarifa única, que estava custando 2 euros, por pessoa. Bem mais econômico do que táxi.
Só encontrei o site do de BCN, onde dá para comprar o ticket online: www.aerobusbcn.com

O Aerobus tem espaço para os passageiros empilharem suas malas, local destinado ao cadeirante, assentos para os demais passageiros, mecanismo para acionar uma rampa de entrada/saída do veículo e o melhor de tudo: Wi-fi grátis!


Tendo em mente que você é um cara esperto e já deu aquela velha e boa busca no Google sobre a sua cidade de destino, decidiu o que quer ver e fazer, montou seu roteirinho e tem um mapinha em mãos, agora é aproveitar!

Barcelona é linda, encantadora, cosmopolita, agitada e super acessível. Até a topografia da cidade facilita a vida do cadeirante, pois ela é bem plana, urbanisticamente bem pensada e fácil de se localizar. As calçadas estão todas em ótimo estado e os semáforo=s contam sempre com uma rampa de inclinação leve para a travessia.
Vista da entrada dos Jardins de Miramar

Até o bairro histórico medieval de Barcelona, o Barri Gótic, cheio de ruelas e sobrados, tem um piso de pedras que é super plano. Uma delícia circular por ali.
Imagina só a maravilha que é circular por essas ruas! A única parte meio chatinha é que quase todos os estabelecimentos comerciais dessa área tem puta batente pra entrar. Mas fazer o que? Nada é perfeito!













Essa foi a calçada mais estreita que eu encontrei andando pelas ruas de Barcelona, e olha que eu rodei bastante por lá!Todas as outras tinham bem três ou quatro metros de largura.
Os Jardins de Miramar é o único ponto de Barcelona que eu não recomendo nem pro mais raçudo dos jogadores de basquete adaptado ou praticantes de handbike, mais por conta da extensão das ladeiras até chegar no mirante do parque do que pela inclinação delas. E se você estiver sendo empurrado, a pessoa que estiver te empurrando vai fazer uma boa malhação! Mas sendo a vista lá de cima tão bela e estonteante, é um passeio recomendável para os motorizados. Um rolê de teleférico, lá próximo ao mirante, também deve ser show de bola, pena que não estava em funcionamento no horário em que eu fui.

Mas existe o plano B! Lá na cidade existem duas (que eu saiba) empresas que alugam scooters e cadeiras motorizadas. Não foi a minha opção, mas caso alguém se interesse, custa quase 40 euros, a diária. Tá aqui os contatos:


Um recorte da vista que se tem do mirante

A hospedagem...

Eu fiquei hospedada num quarto acessível do hotel ATH Citypark Pelayo. Acredito que não seja difícil encontrar hospedagem acessível por lá, pois esse já era o hotel previsto no pacote, apenas solicitamos a reserva dessa suíte em especial:
A planta-baixa do andar fica fixada na porta do quarto, na parte interna. Eu estava no apartamento acessível, que está em verde-claro. O quarto e o hotel, como um todo, eram bem ‘apertadinhos’. Mas nada que impossibilite a estadia do cadeirante

O quarto era minúsculo, difícil até de fazer um giro com a cadeira, mas pelo menos com o banheiro estava tudo ok! A adaptação era funcional. 
Ponto positivo para a porta de correr que separava o quarto
 do banheiro, mas ponto negativo para a ideia de manter os cabides pendurados a essa altura


Como eu não tenho muito controle de tronco, não curto muito aqueles bancos rebatíveis que são instalados em alguns banheiros, na parte do banho. Solicitei uma cadeira, eles foram gentis mas o que tinham para oferecer era somente uma cadeira simples, sem braços e que já ficava no quarto. Apesar de ser de madeira, permitiram de boa que ela fosse utilizada durante o banho. Além disso, não havia desníveis em nenhuma parte da suíte e o box era de cortina.







Achei o balcão onde ficava disposto o café da manhã bem alto...
À mesa, o esquema de sempre: juntar duas e ficar no meio


 Um rolezinho na Cataluña...

A minha dica de turismo na cidade é o Sightseeing Bacelona, um ônibus que faz um tour pela cidade com paradas nos principais pontos turísticos. O que eu achei mais interessante nesse sistema é que o turista recebe um folder com um mapinha do trajeto indicando onde são as paradas e resumindo sobre cada um dos pontos, mas é ele quem decide aonde vai descer e quanto tempo quer ficar, pois os ônibus passam a cada 20min e o bilhete é válido por dois dias (e noites) de passeio.

Eles entregam um fone de ouvidos na entrada, aí é só conectar e selecionar um idioma para ouvir a narração contando um pouco da história de cada um dos pontos.
A rampa de embarque/desembarque só precisa ser puxada para dentro ou para fora. Nada de botões, nem controles. A ausência de mecanismo elétrico é uma coisa muito boa porque reduz a quase zero a possibilidade de quebrar. Sem contar que os ônibus por lá já não são tão altos feito as “carroças” que a gente tem aqui pelo Brasil, onde são necessários três degraus pra se alcançar o patamar do veículo. Lá, isso se faz com apenas um batente; então a rampa fica com uma inclinação bem razoável quando é aberta.

O City-Sightseeing é como uma multinacional que oferece serviço de turismo por várias cidades mundo afora. Antes de fazer qualquer viagem, você pode procurar no site da empresa se, na sua cidade de destino, ele é ofertado. E ainda dá pra fazer o book-in online! www.city-sightseeing.com
Barcelona é uma cidade que eu vou sempre recomendar. Seja pra viajar com a família, com os amigos, com o Love ou até praqueles cadeirantes mais radicais que curtem fazer as malas e cair no mundo sozinhos. Acessibilidade (ou falta dela) nunca será um item causador de transtornos.

Lisboa não é uma Cidade recomendável para o turismo de cadeirantes. Apesar de linda, cheia de História e de ter uma culinária deliciosa, a acessibilidade deixa a desejar. Uma das primeiras chatices que eu encontrei por lá foram... adivinha só? As malditas pedras portuguesas em praticamente TODAS as calçadas! Até aí nenhuma novidade para nós, sofridos cadeirantes brasileiros herdeiros dessa desgraça, digo, ITEM arquitetônico.

Não posso ser injusta e deixar de abrir um parênteses para dizer que até as pedras portuguesas de Lisboa eram melhores do que as do Recife (estou fechando só aqui na minha cidade porque são as calçadas que conheço bem). Ao menos não encontrei, na terra de Camões, grandes desníveis provocados por raízes de árvores antigas e associados a incompetência do poder público, nem as habituais ‘crateras’ formadas pela ausência de várias pedrinhas em pontos diversos na extensão de uma mesma calçada.

Mares (por mim) nunca d’antes navegados


Guia rebaixada nas esquinas não era muito comum. Até quando tinha semáforo e faixa de pedestre, às vezes faltava a rampa. Também foi mais difícil encontrar hospedagem acessível, terminei tendo que reservar um quarto no Íbis Liberdade, que nem era o hotel incluído no pacote. http://www.accorhotels.com/pt/hotel-3137-ibis-lisboa-liberdade/index.shtml


A suíte acessível do Íbis tem três características negativas.  São elas:
 1.       O cabideiro ficava numa altura completamente inalcançável por um cadeirante
2.       A cama tinha uns 65cm de distância do chão, o que é MUITO
3.       Os botões de controle do aquecedor ficavam fixados na parede a uma altura completamente fora do alcance de uma pessoa sentada, devia ser 1,75m do chão, mais ou menos.
 Tirando esses itens, o resto era tranquilo. Tanto o quarto como o banheiro eram confortáveis e suficientemente amplos.


 Mas como nem tudo são flores, no banheiro eu encontrei um grande problema! Entrei em contato por email meses antes para saber da disponibilidade deste quarto e aproveitei para perguntar se o hotel dispunha de cadeira higiênica para o banho: a resposta foi negativa. Chegando lá eu vi que também não tinha daqueles banquinhos rebatíveis que ficam presos à parede do box. Aí ficou a dúvida: Como será que os portugueses acham que nós cadeirantes fazemos para tomar banho?
Pra não perder tempo procurando resposta para a falha alheia, peguei a cadeira de madeira que ficava no quarto sem hesitar! E desta vez, não avisei, nem pedi a ninguém do hotel.

Eu achei o balcão do café da manhã um pouco alto e os pés das mesas quadradas impedem o cadeirante de se aproximar delas. Mas também haviam mesas redondas e eu prefiro porque dá pra se posicionar melhor. A foto abaixo foi feita na calçada do próprio Íbis, esse “lance” de rampa com escada numa mesma calçada até que foi uma alternativa inclusa. Só que a parte rampeada é tão íngreme que até motorizada eu fiquei com medo de andar por essa calçada sozinha. E assim é em praticamente toda região central de Lisboa: muita ladeira e pedras portuguesas!






Em LIS nós usamos um serviço particular de turismo. Por opção do grupo mesmo. Visitamos parques, museus, monumentos, igrejas, palácios... Mas sobre o tráfego de um cadeirante pelas ruas da cidade eu só posso falar sobre o que eu via da janela da van que nos levava. E a paisagem não era muito animadora. Apesar de haver uma preocupação com a acessibilidade física em muitos dos pontos turísticos que eu visitei, – como por exemplo, com a existência de rampas removíveis para a pessoa poder transpor os vários batentes de palácios e museus antigos – essa mesma preocupação parecia nem existir nos demais pontos por onde eu passava.
Não consigo lembrar de um restaurante, pastelaria (como os portugueses chamam as lanchonetes), confeitaria, café, NADA, onde tivessem feito uma rampa ao invés de um ou mais degraus.

Tiramos uma tarde para visitar o Centro comercial Colombo - http://www.colombo.pt/ - e quando eu quis ir no banheiro, tive que ficar um tempo na porta do acessível esperando a pessoa, para minha surpresa, SEM deficiência sair. Mas o pior de tudo foi... PASMEM!!! O taxista português, dono de uma Doblò, que se recusou a fazer a viajem comigo. Embora eu estivesse com parentes, os quais garantiram que minha cadeira cabia inteira na mala e asseguraram que eles mesmos fariam isso, o motorista não foi sincero (como os brasileiros, que jogam logo a real na sua cara e dizem que não levam cadeirantes, sem cerimônia) e ficou inventando desculpa, até que arranjamos outro e seguimos.


Não quero ser cruel na minha avaliação, mas Lisboa eu só recomendo paras os que são apaixonados pela História do lugar, para os que são muito católicos e curtem ficar visitando igrejas e mosteiros ou para quem (assim como eu) não teve oportunidade de definir o destino da viajem sozinho. E viajem pra Europa ninguém é bobo de recusar, né?!"
  

*Os valores mencionados nesse artigo referem-se aos preços que estavam sendo praticados em fevereiro de 2015


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Nós do inperfeitas agradecemos a participação de Juliana Duarte contando como foi sua experiência de viagem. 
Belo texto e esperamos que seja um norte para os leitores interessados em partir....viajar... descobrir-se ;)